quarta-feira, 25 de junho de 2008

Xeque-mate: escolas estaduais do Rio se preparam para a entrada de xadrez no currículo escolar

RIO - Em 2006, o estudante Paulo dos Santos de 15 anos teve seu primeiro contato com o tabuleiro quadriculado em preto e branco do xadrez graças ao incentivo de um professor. Ele achou as peças curiosas e estranhas e resolveu aprender. Dois anos depois, o menino tornou-se um grande campeão dos torneios intercolegiais de Duque de Caxias, entre eles o Campeonato Estudantil Juvenil da cidade, e suas notas passaram de muito ruins a excelentes.
Assim como Paulo, outros alunos da rede estadual de Educação serão "iniciados" no jogo graças a uma lei estadual promulgada na semana passada que estabelece a obrigatoriedade do xadrez em todas as escolas da rede. O projeto de lei foi promulgado pelo presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) , o deputado Jorge Picciani, mesmo depois do veto do governador Sérgio Cabral. Segundo o governador, os objetivos da proposta já se encontravam atendidos pelo programa de "Xadrez nas Escolas" criado em 2005, através de uma parceria do Governo do estado com a Federação Estadual de Xadrez e a secretaria de Educação. Para entrar em vigor, a lei só precisa ser regulamentada.
- Antigamente, não conseguia ler duas linhas, não tinha paciência. Sou uma outra pessoa agora com o xadrez, minhas notas e, principalmente, meu comportamento mudaram muito - conta Paulo que é aluno da 7ª série do ensino fundamental do Colégio Estadual Monteiro Lobato, em Caxias.
De acordo com o presidente da federação, Ricardo Barata, o programa foi aplicado em 60 dos 92 municípios do estado, atendendo mais de 25 mil crianças em 250 escolas, mas acabou não indo para frente no ano seguinte, devido a outras prioridades do governo, como suprir a falta de professores.
A secretaria de Educação informou que não existe um quantitativo hoje de quantas escolas da rede oferecem xadrez. Muitas deram continuidade às atividades do programa através de parcerias com ongs ou em empreendimentos próprios, mas em outras, a iniciativa não vingou. A secretaria anunciou que fará um levantamento, em breve, para conhecer números e experiências bem-sucedidas que poderão fornecer subsídios para a implantação da lei. Experiências como a do projeto "Virando o jogo", idealizado e coordenado pelo professor Aldenir Batista Manhães, o mesmo que ensinou Paulo a jogar xadrez. Ele conta que tudo começou como uma brincadeira há dois anos para melhorar o desempenho de alguns estudantes:
- Eu tinha quatro alunos com notas péssimas e próximos de repetir o ano, e lhes propus o seguinte desafio: se eles conseguissem aprender xadrez, eu relevaria as advertências. De bagunceiros, eles começaram a ser visto como exemplos para outros garotos. Assim, ganharam auto-estima e melhoraram seu rendimento nas aulas. A idéia deu tão certo que foi implementada em outras escolas estaduais da Baixada Fluminense - conta ele, que, antes de ensinar xadrez,era professor de sociologia.
Pelo projeto, os alunos têm quatro aulas de xadrez por semana, o que segundo Manhães, tem contribuído para melhorar as notas e o comportamento deles na escola e em casa.

- Além disso, eu levei os tabuleiros para as praças no entorno das escolas para envolver toda a comunidade e, principalmente, os pais. Os meninos têm participado dos campeonatos intercolegiais de xadrez e conquistado ótimos resultados - comemora.
Para o presidente da federação de xadrez, Ricardo Barata, o jogo é uma
ferramenta pedagógica de "baixo custo, prática e extremamente eficaz para melhorar o rendimento dos estudantes ".
- Concentração, imaginação, disciplina, raciocínio ló-gico, memória, entre outras, são as principais capacidades otimizadas pela prática do jogo - enumera. Barata considerou a lei que obriga o ensino do jogo nas escolas estaduais muito positiva, principalmente, por ser a primeira no país, e espera que ela possa ajudar a reativar o programa "Xadrez nas Escolas", que, segundo ele, é um dos maiores projetos da área no país.
- Apesar de não estar na pauta de prioridades do governo no momento, ele foi muito bem-sucedido e plantou muitas sementes nas escolas, que continuam com o trabalho de xadrez e mudaram a vida de muitos meninos - diz.
Marta Reis - O Globo Online

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